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A dor de ouvido é um sintoma, não um diagnóstico. O mesmo desconforto pode vir de locais muito diferentes no ouvido, e isso é importante porque o tratamento e os cuidados pessoais não são os mesmos. A maioria dos problemas dolorosos nos ouvidos ocorre em um de dois locais: o canal auditivo (ouvido externo) ou a cavidade cheia de ar atrás do tímpano (ouvido médio). Quando a pele do canal fica inflamada ou infetada, chamamos-lhe otite externa — frequentemente apelidada de «ouvido de nadador». Quando a infeção se acumula atrás de um tímpano intacto, trata-se de otite média aguda, geralmente após uma constipação. Este artigo oferece uma forma simples de distinguir entre elas, com orientações práticas sobre o que pode fazer em segurança em casa e quando é altura de consultar um médico.
Onde está o problema — e porque parece diferente
A otite externa afeta a pele do canal auditivo. Essa pele é fina e rica em terminações nervosas, razão pela qual a dor pode ser aguda e tocar na orelha tende a piorá-la. As pessoas frequentemente sentem sensibilidade ao pressionar a pequena protuberância cartilaginosa na parte frontal (o trago) ou ao puxar suavemente a orelha externa. O inchaço e os detritos podem estreitar o canal, fazendo com que a audição seja intermitente, e é comum ocorrer uma secreção fina, pois a pele inflamada escorre.
Uma infecção no ouvido médio ocorre atrás do tímpano. Geralmente surge após alguns dias de nariz entupido, dor de garganta ou tosse. À medida que a trompa de Eustáquio (a passagem que equaliza a pressão na parte posterior do nariz) fica inflamada e lenta, o líquido acumula-se, a pressão aumenta e a dor intensifica-se. Essa dor tende a ser mais profunda e constante, às vezes latejante e pior à noite. É mais provável que haja febre do que na otite externa. A audição geralmente fica abafada, como se estivesse «debaixo de água» ou embotada. Se a pressão romper um ponto fraco no tímpano, pode haver um estalo repentino, um breve alívio da dor e uma secreção — uma pequena perfuração que geralmente cicatriza por conta própria com os cuidados adequados.
O que normalmente desencadeia cada um
A otite externa prospera em um canal úmido e irritado. A água da natação ou dos banhos frequentes amolece a pele e altera as suas defesas naturais; acrescente cotonetes, unhas, grampos de cabelo ou aparelhos intra-auriculares mal ajustados e a pele pode se romper o suficiente para que bactérias ou fungos se instalem. Eczema ou alergias de contato (a produtos para o cabelo ou a pele) podem agravar o problema, e o excesso de cera às vezes retém umidade e detritos contra a pele.
A otite média aguda é geralmente o efeito posterior de uma infeção viral das vias respiratórias superiores. As crianças são mais propensas porque as suas trompas de Eustáquio são mais curtas e estreitas, mas os adultos também podem ter otite média — especialmente na época de gripes e constipações, com rinite alérgica, após viagens aéreas quando estão congestionados ou quando expostos ao fumo do tabaco. O fator comum é a má ventilação do ouvido médio: se a trompa não conseguir limpar e equilibrar a pressão, o líquido fica retido e pode infetar-se.
Como reconhecer o padrão em casa
Se mover ou tocar a orelha externa causa muita dor, é mais provável que se trate de otite externa. Comichão no canal auditivo e sensação de bloqueio no início são sintomas característicos, e é comum haver uma secreção fina que suja um cotonete (o que deve ser evitado) ou a almofada. Dor de ouvido que aumenta após um mergulho ou banho também aponta para essa possibilidade.
Se a sua dor de ouvido surgiu após uma constipação, se parece uma pressão profunda acompanhada de febre ou mal-estar geral e não piora muito ao tocar na parte externa do ouvido, pense no ouvido médio. As crianças podem puxar a orelha, ter dificuldade para dormir ou parecer incomumente irritadas. Os adultos às vezes percebem que os sons estão mais abafados e que a sua própria voz ecoa.
Primeiros passos seguros — e o que evitar
Em caso de suspeita de otite externa, é importante manter o canal seco. Ao tomar banho, pode colocar uma pequena bola de algodão untada com um pouco de vaselina na entrada (não profundamente) para impedir a entrada de água e removê-la depois. O alívio da dor com paracetamol ou ibuprofeno é adequado, se puder tomá-los. Evite cotonetes, velas auriculares e qualquer tentativa de «raspar» detritos — isso irrita ainda mais a pele e empurra o material para mais fundo. Evite usar fones de ouvido ou aparelhos auditivos no lado dolorido até que tudo se acalme e limpe bem os moldes ou domos antes de voltar a usá-los.
Em caso de suspeita de infecção no ouvido médio, concentre-se no conforto enquanto o seu corpo faz o trabalho inicial. Líquidos, repouso e controlo da dor/febre ajudam bastante. Sprays nasais salinos ou outras medidas de curto prazo recomendadas por um farmacêutico podem aliviar a obstrução nasal e ajudar a trompa de Eustáquio a funcionar mais livremente. Em muitas crianças e adultos saudáveis, os sintomas começam a melhorar em 24 a 48 horas sem antibióticos. Dito isto, dor agravada, febre alta ou desconforto acentuado são motivos para procurar orientação médica mais cedo.
Quando marcar uma consulta
A avaliação profissional é sensata se a dor for moderada a intensa, se persistir por mais de 48 horas apesar de medidas simples ou se simplesmente não tiver a certeza do problema que tem. Para otite externa, vermelhidão, inchaço ou sensibilidade pronunciada ao redor da orelha externa ou secreção com odor devem ser verificados. Para infecção do ouvido médio, febre alta persistente, dor intensa ou sintomas que não melhoram após alguns dias merecem uma avaliação. Pessoas com maior risco — por exemplo, com diabetes, imunidade reduzida, problemas de pele ou aparelhos auditivos que causam desconforto no canal auditivo — devem optar por uma avaliação mais precoce.
Sinais de alerta urgentes
Procure atendimento médico urgente se sentir dor intensa acompanhada de inchaço e vermelhidão na orelha externa ou na pele ao redor dela, se sentir sensibilidade na área óssea atrás da orelha (a mastóide), se houver fraqueza facial, rigidez no pescoço ou confusão, ou se a dor de ouvido surgir após um traumatismo craniano e você se sentir muito mal. Essas situações são incomuns, mas importantes.
O que os médicos fazem — e porque isso ajuda
Um exame tranquilo do ouvido geralmente separa os problemas do canal dos problemas do ouvido médio. Para otite externa, os médicos procuram pele inchada e inflamada no canal e detritos; uma limpeza cuidadosa (“higiene auricular”) pode ser usada para melhorar o conforto e ajudar as gotas a atingirem a pele. O tratamento de primeira linha é com gotas auriculares tópicas com um componente antibacteriano (e, muitas vezes, um esteróide suave para acalmar a inflamação) ou uma preparação antifúngica, quando esse for o problema. Se o canal estiver muito inchado, pode ser colocado um pequeno pavio para transportar as gotas enquanto o inchaço diminui. A maioria dos casos melhora em dois a três dias e resolve-se em cerca de uma semana, desde que o ouvido seja mantido seco e os irritantes sejam evitados.
No caso de otite média aguda, o exame procura um tímpano vermelho e protuberante com movimento reduzido ou uma pequena perfuração com secreção. Os pilares do tratamento são analgesia e tempo; antibióticos são oferecidos em situações específicas (por exemplo, se você estiver sistemicamente indisposto, se houver uma perfuração com pus, se você estiver em maior risco de complicações ou, em algumas crianças, após uma avaliação cuidadosa). Se ocorrer uma perfuração, será aconselhado a manter a água fora enquanto cicatriza. Também é comum ter algum líquido no ouvido médio (com audição embotada) por um tempo após o desaparecimento da dor aguda; isso geralmente desaparece em algumas semanas, mas o acompanhamento é útil se persistir.
Prevenção que realmente funciona
Para a otite externa, menos é muitas vezes mais. Deixe a cera do ouvido fazer o seu trabalho protetor; ela é um hidratante natural e uma barreira antimicrobiana. Seque a parte externa da orelha após nadar ou tomar banho e deixe o canal secar ao ar livre, em vez de enfiar qualquer coisa dentro dele. Se tiver eczema ou dermatite de contato, mantenha os fatores desencadeantes longe do canal. Certifique-se de que os moldes dos aparelhos auditivos ou os fones de ouvido se ajustem confortavelmente e sejam mantidos limpos; se alguma parte esfregar na pele, peça para que sejam ajustados.
No caso de infecções do ouvido médio, o básico é importante: a higiene das mãos e os cuidados respiratórios reduzem a propagação de constipações, parar de fumar beneficia a trompa de Eustáquio, bem como os pulmões, e o bom controlo das alergias nasais torna os problemas de pressão menos prováveis. Se precisar de voar quando estiver congestionado, um farmacêutico ou médico de família pode aconselhá-lo sobre medidas simples para tornar a equalização da pressão mais segura e confortável.
Uma palavra sobre medicamentos caseiros
Gotas auriculares antigas ou antibióticos parcialmente usados podem não ser adequados para o problema atual — e algumas gotas não são seguras se tiver uma perfuração. Se não souber se o seu tímpano está intacto, não comece a usar gotas sem orientação médica. O tratamento correto depende da localização do problema e da sua causa.
Conclusão
Sensibilidade ao puxar a orelha, comichão e secreção indicam otite externa; dor profunda ao pressionar após um resfriado, com febre e audição abafada, indicam uma infecção no ouvido médio. Ambas são comuns e geralmente melhoram rapidamente com o tratamento adequado. Se estiver preocupado ou se os sintomas forem graves ou persistentes, um exame simples do ouvido fornecerá clareza e um plano em que pode confiar.
Referências científicas
• https://patient.info/ears-nose-throat-mouth/earache-ear-pain
